Vinhos Conceituais
Ao escrever esse artigo eu não tenho a pretensão de falar com muitos detalhaes sobre cada um dos conceitos empregados na elaboração dos vinhos, até mesmo porque já tem muita gente tratando do assunto. Achei que não deveria ser repetitivo.
Não farei também apologia há determinado conceito de elaboração em detrimento dos demais. Pretendo apenas falar, de forma extremamente simples, sobre cada um dos conceitos e, por fim, fazer algumas considerações, que julgo oportunas, para melhorar um pouco mais a compreensão das pessoas sobre aspectos como qualidade, sabor e saúde que vêm sendo objeto de dissertações, quase sempre por pessoas cujo interesse é puramente comercial.
O apelo:

As práticas sustentáveis vem ganhando cada vez mais força no Brasil e no mundo. As pessoas, cada dia mais, buscam aliar seu bem estar, obtido por meio de produtos produzidos com maior qualidade, associado aos cuidados necessários à preservação do meio ambiente.
Isso ocorre nos mais diversos tipos de produtos destinados ao consumo e, dentre eles, estão os alimentos e o vinho.
Vou falar inicialmente sobre cada um dos conceitos utilizados para o plantio e produção das uvas e na elaboração dos vinhos.
Vinhos Convencionais:

É a chamada vinicultura de larga escala na qual aproximadamente 95% dos vinhos do mundo são produzidos. Nela é permitida a aplicação das mais diversas práticas, a começar pelo vinhedo, onde pode-se escolher uma videira, considerada superior às outras, e propagá-la de forma clonal. Aplica-se, de forma preventiva, herbicidas, pesticidas e fertilizantes sintéticos para evitar ataques de fungos, pragas e outras plantas concorrentes. Tanto a aplicação dos produtos químicos como também a colheita das uvas são feitas com máquinas e tratores pesados que compactam o solo e dificultam a vida embaixo da terra.
Vinhos Orgânicos:

Os vinhedos que produzem este tipo de vinho dispensam o uso de pesticidas, fungicidas ou qualquer outro defensivo agrícola, com algumas concessões no uso do sulfato de cobre(antifúngico), sulfitos(conservantes) e adição de leveduras selecionadas.
Estima-se que cerca de 2 mil aditivos podem ser usados em uma produção convencional, entretanto, numa atividade vinícola orgânica, até os fertilizantes químicos são substituídos por adubo natural.
A produção de vinhos orgânicos representa, hoje, cerca de 4% da fabricação mundial da bebida.
Vinhos Biodinâmicos:

A forma mais simples de entender a vinicultura biodinâmica é pensar o vinhedo como um ser vivo auto-suficiente. Daí decorre a importância da biodiversidade para manter o equilíbrio da propriedade e evitar o ataque de doenças, que seriam fruto de um desequilíbrio naquele ambiente.
Nesse modelo de agricultura, a natureza se ajuda: os chás naturais auxiliam na mineralização do solo, a plantação de rosas entre as videiras controla a proliferação de pragas e o engarrafamento do vinho é feito de acordo com os ciclos lunares: tudo garante o completo equilíbrio do solo.
Não por acaso, tem gente que gosta de definir a agricultura biodinâmica como uma mistura de astrologia, homeopatia e fé.
Alguns especialistas asseguram que, por seguir esse ciclo que elimina os produtos sintéticos, a agricultura biodinâmica é responsável pela produção dos vinhos mais intensos, saudáveis e saborosos do mundo. Vamos falar desse ponto ainda neste artigo.
Vinhos Naturais:

Um vinho natural pode ser produzido tanto a partir da agricultura orgânica como também da biodinâmica, sendo caracterizados pela ausência de leveduras ou aromatizantes artificiais.
A proposta é manter as características naturais da uva. Como não passam por nenhum tipo de filtragem, esses vinhos costumam ser mais escuros e espessos. Para acentuar o sabor, devem ser consumidos depois de decantados.
A ausência de conservantes podem reduzir o tempo de vida da bebida mas, por outro lado, minimizam riscos com dores de cabeça no dia seguinte ao consumo.
Considerações finais:

A primeira coisa que temos que ter em mente é que, a priori, um vinho, seja ele convencional, orgânico, biodinâmico ou natural, não é melhor e nem pior que qualquer outro vinho pelo simples fato de ter sido produzido segundo um conceito e não em outro. Digo isso porque há vinhos elaborados no conceito convencional que são infinitamente superiores a outros vinhos elaborados segundo os conceitos orgânico e biodinâmico. O inverso também é verdadeiro. Existem vinhos orgânicos e biodinâmicos espetaculares.
O que define a qualidade do vinho é essencialmente a qualidade da uva. Depois a região na qual foi produzida e a expertise do produtor. O rótulo do vinho irá completar essa lógica já que existem cuidados na produção, etapas de manejo e tempo de amadurecimento em barricas que o tornarão um produto mais ou menos diferenciado. Quando o manejo sustentável está associado a esses fatores os resultados obviamente serão mais significativos.
O que quero ressaltar é que não é correto dizer que um vinho orgânico ou biodinâmico, conforme dizem alguns especialistas com interesses comerciais, é mais saboroso que um vinho elaborado segundo o método convencional. Alguns com certeza o são, mas não só pelo fato de serem orgânicos ou biodinâmicos. Com certeza eles reunirão outros atributos marcantes que acentuarão sua qualidade.
Já em relação à saúde me parece correto dizer que um vinho elaborado a partir de frutas(uvas), produzidas sem uso de defensivos agrícolas, possa ser mais saudável que um vinho produzido a partir de uvas que não tiveram esse mesmo tratamento. Porém não vamos esquecer que existem intervenções feitas dentro das cantinas, nas etapas de produção do vinho, que visam corrigir e ajustar tais efeitos.
Alguns especialistas afirmam, por exemplo, que o vinho orgânico/biodinâmico previne doenças cardiovasculares. Isso é verdade mas cabe destaque para o fato de que tal ação deve-se ao componente resveratrol que está presente na uva e portanto em todos os vinhos.
E quando se fala de preços, os vinhos orgânicos e biodinâmicos de fato são ligeiramente mais caros, e isso é explicado pelos custos mais elevados na produção. Portanto quando comparamos vinhos de mesmo padrão de qualidade teremos nos vinhos orgânicos e biodinâmicos um preço um pouco superior. Mas, excetuando-se casos em que o vinho seja mais caro por questão de marca, mercado ou produção reduzida, o preço mais alto não chega a ser indicativo de maior qualidade.
Quero finalizar dizendo que temos que buscar sempre o melhor, seja em qualidade, seja em preços, seja na preocupação sempre saudável com o meio ambiente. Lembro que o vinho não precisa ser necessariamente caro para ser de boa qualidade mas devemos estar sempre atentos para não ficarmos presos aos chavões e modismos do mercado, onde um selo muitas vezes passa a definir o que deve ser comprado.
Convido você a fazer uma prova: Ao fazer sua próxima compra selecione um vinho convencional de boa qualidade e um orgânico ou biodinâmico mais básico. Verifique se estes últimos serão melhores. Faça também o inverso e novamente verifique o resultado. Quando possível repita o teste comprando vinhos de mesmo padrão. Você irá notar que a cada nova experiência o resultado será diferente.
Você muito provavelmente irá constatar que nenhum tipo de vinho irá ganhar todas e é isso que é bom nos vinhos. Sempre haverá uma surpresa diferente.
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